01 fevereiro, 2016

Pesadelo Formado


Eu tenho medo de morrer. Mas, acima de ter medo de morrer, tenho medo dele. Ele me envolve em suas teias apaixonantes e depois se transforma num pesadelo horrível. A última vez que tive isso foi numa Sexta-feira de Outubro, coincidentemente uma Sexta-Feira 13. 
Não sou ligada nessas coisas de superstição, sabe? Simplesmente acho perda de tempo ficar acreditando em coisas fantasiosas que podem te matar. Mas eu acredito nele. Ele é tão real quanto as folhas de papel que toco ao escrever isso ou a chuva caindo no firmamento lá fora. É tarde e eu sinto sono, mas não posso dormir. Sinto que, se dormir hoje, uma Sexta-Feira 13, irei morrer. Serei levada com ele para o Vazio. Então, decido andar até a cozinha e preparar um café. Não tem nada de bom na TV, então, ligo o rádio, bebericando um gole da bebida que tinha acabado de procurar. Um ruído no rádio me deixa encabulada. Logo, o ruído toma som de palavras assustadoramente frias e cruéis.
" Uma semana terás. "
Sinto um calafrio percorrer pela minha espinha. A chuva para lá fora, então decido sair no quintal para olhar as estrelas. Algo na minha frente se mexe.
" Kitty, é você de novo?"
Chamo pela minha gata de pelos escuros, Kitty. Ela não responde com o comunal miado que ouço quando a chamo. No lugar disso, escuto um ruído, que logo se transforma em palavras, dessa vez inseguras e parecendo precisar de ajuda.
"Sonhe! Ou melhor... não sonhe! Permaneça na luz, na luz eterna, a escuridão da medo e dá calafrios..."
Me lanço na luz fraca da lavanderia, que havia acendido há pouco tempo. Então, junto minhas mãos em uma prece e ajoelho, pedindo ao Senhor que tenha piedade de minha alma e que leve minha insanidade embora.
"Não há Senhor, Anjos ou Almas! Seres corrompidos como você devem morrer, e eu a levarei!"
Subo as escadas correndo. Choro, grito, na esperança de que alguém me ouvisse naquele fim de mundo. Ligando abajures, acendendo luzes, havia tornado minha casa uma fonte enorme de luz. Mas, pouco a pouco, elas iam se apagando. Velas não duravam dois minutos.
Corro para a frente da casa. Choro e peço piedade. Mas nada adianta. Espero amanhecer, sem olhar em espelhos e relógios. O medo consome e dá raiva. Acabo por adormecer, desta vez, sem sonhos.
Quando abro os olhos, vejo os primeiros raios do sol. Me levanto e vejo que estava na frente de casa, dormindo encolhida perto da porta. Ao levantar, solto um "Aleluia" e entro para dentro de casa, deixando a porta aberta. 
Escrevo tudo o que acontece na noite em um pedaço de papel. Me conforta. Depois de arrumar a casa, olho para a fachada e decido entrar novamente na sala. Estava mais confiante.

[Nota]
Beatrice está morta. Estava passando na frente da casa dela, e decido parar por curiosidade. Assim que ela entra, a porta se fecha bruscamente.
"Não, por favor! Não! Piedade!"
Ouço apenas um grito fino, que toda a rua devia ouvir. A casa, por dentro, parecia escura. Alguns minutos depois, arrisco dizer, três ou quatro minutos depois, a casa se ilumina novamente. Decido chamar a polícia.

Beatrice sai da sala envolta em um pano negro, carregada por alguns bombeiros. Pediram que eu fosse até o necrotério reconhecer o corpo da pobre moça. Em seu bolso, encontro um pedaço de papel com esta história, e depois um pequeno cartão, com os dizeres:

"Matou o pai e a mãe e deve pagar com a própria vida.
Causa da Morte: Olhou para trás."

Então, repentinamente escutei um sussuro: 
"Sonhe! Ou melhor: Não sonhe! Olhe apenas para trás."

4 comentários, comente você também (❁´◡`❁)*✲゚*

  1. Credo, isso é triste rs. Gosto de escrever também mas acho que terror não é meu forte,, até porque eu não curto, mas o seu ficou bem legal. garotaveneta.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu amo escrever e ler terror. Obrigada pelo comentário, vai me inspirar a continuar escrevendo!
      Beijos.

      Excluir
  2. Simplesmente amei! Você escreve tão bem! Um beijão ♥
    http://algoparacontar99.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir